Em resposta ao artigo de Luan Sperandio, publicado na Gazeta do Povo nessa quarta-feira (24), os Correios vêm a público esclarecer algumas inverdades:
De acordo com o texto, entre 2012 e 2016, “as estatais brasileiras tiveram um prejuízo da ordem de R$ 33 bilhões , que foram arcados com dinheiro do Tesouro Nacional”. O autor esquece ou simplesmente omite a informação de que, entre 2007 e 2013, os Correios repassaram à União, a título de antecipação de dividendos, o equivalente a mais de R$ 6 bilhões, valor este maior que o prejuízo acumulado dos últimos anos. Não se sabe se, intencionalmente ou não, o artigo também não esclarece que os Correios são uma empresa independente do Tesouro Nacional, ou seja, quando apresenta prejuízo, recorre a empréstimos pagos com recursos próprios, não onerando o bolso do contribuinte por meio de impostos.
Alega o autor, ainda, que os Correios foram protagonistas de diversos escândalos de corrupção no passado, mas ignora que tais casos foram esclarecidos à época e hoje a empresa é referência em governança entre as estatais.
Sobre a ingerência política, mais uma vez, o artigo apresenta dados antigos, que não condizem com a realidade atual dos Correios. A empresa está passando por uma evolução em sua estrutura organizacional: em lugar de oito vice-presidências, como citado, agora os Correios possuem seis diretorias.
Sobre outro motivo elencado no texto pelo qual o governo deveria privatizar a empresa, ineficiência, o autor revela falha grave na apuração dos fatos. Conforme amplamente divulgado, desde o ano passado a qualidade operacional dos Correios vêm mantendo índices superiores, inclusive, aos de operadores postais privados mundialmente conhecidos, chegando a 99% de entregas de encomendas realizadas dentro do prazo contratado. Cabe aqui esclarecer que, apenas no segmento concorrencial, os Correios entregam diariamente mais de um milhão de objetos. Se considerarmos o fluxo total, são mais de 22 milhões por dia.
De maneira inversamente proporcional, o número de reclamações caiu diante do aumento da qualidade. No 1º trimestre de 2019, houve redução de 72% na quantidade de manifestações nos canais oficias de atendimento da empresa, sobre objetos nacionais e internacionais, em relação ao mesmo período do ano passado.
Medidas como a desativação de agências sombreadas e o programa de demissão incentivada foram adotadas para reduzir custos e melhorar o caixa da empresa e não foram realizadas de maneira isolada. Ao contrário, o encerramento de atividades em algumas unidades convencionais de atendimento faz parte de um projeto mais amplo, o de remodelagem da rede, que visa ampliar o número de canais de atendimento à população com modelos mais modernos e adequados às diversas realidades regionais.
Em relação à cobrança do despacho postal para encomendas internacionais, exaustivamente explicado, não se trata de medida arbitrária, conforme afirma o artigo. Refere-se à justa remuneração aos Correios pela prestação de serviços de suporte ao tratamento aduaneiro. Cabe destacar que tal cobrança já é praticada há muito tempo por operadores privados do setor no Brasil e que o valor praticado pelos Correios é, na média, quatro vezes menor que o dos concorrentes.
Se no segmento de encomendas, o mercado é concorrencial, a exclusividade postal do Estado ainda é uma realidade para a grande maioria dos correios no mundo. Em países de extensão territorial comparável à do Brasil, como Estados Unidos, China, Canadá, Rússia e Austrália, eles são públicos e exercem o importante papel de integração nacional.
A privatização pura e simples do correio brasileiro será uma perda tanto para o país quanto para a sociedade. Apenas em poucos países, todos de dimensões reduzidas, o serviço postal está nas mãos da iniciativa privada. A DHL, por exemplo, é resultado de uma política pública de capitalização do correio da Alemanha. Em vez de privatizar o correio alemão, o governo optou por capitalizá-lo e fez uma abertura parcial de capital – o controle continua com o governo.
Em contrapartida, a privatização do correio de Portugal, assim como da Argentina (que teve que ser reestatizado, porque a privatização piorou os serviços), não trouxe os resultados positivos tão desejados.
Falar sem conhecer o universo complexo que envolve os Correios, usando argumentos rasos e dados desatualizados é, no mínimo, irresponsável quando se trata de formadores de opinião que escrevem para um veículo de comunicação. O debate sobre o assunto deve ser feito de modo cuidadoso, consciente e sempre comprometido com a verdade.