A CNP Seguradora e os Correios formalizam hoje a parceria de exclusividade na distribuição de seguros pela rede de agências e outros canais da empresa pública de logística. O grupo francês venceu a licitação em junho com um lance de R$ 155 milhões. O acordo vale por dez anos.
A CNP e os Correios tinham um acordo anterior de distribuição não exclusiva de títulos de capitalização e assistência odontológica. A nova parceria prevê exclusividade para a filial brasileira do grupo francês na distribuição de produtos securitários pela rede de agências e mais canais da companhia de logística.
Em entrevista ao Valor, o CEO da CNP Seguradora, François Tritz, enfatizou se tratar de uma parceria de longo prazo, com potencial de se tornar estrategicamente tão relevante quanto a que o grupo tem com a Caixa Econômica Federal. A companhia manteve durante 20 anos a exclusividade de distribuição de seguros na rede do banco.
Quando o contrato terminou, a Caixa relicitou o balcão. No novo processo, a CNP firmou “joint ventures” com o banco para distribuição de seguros de vida e prestamista, além de previdência privada e consórcios.
Os Correios, de acordo com a companhia, têm presença física em todos os mais de 5,5 mil municípios do país. “Junto com o ‘bancassurance’ [distribuição pela rede de agências bancárias], estamos desenvolvendo o ‘postassurance’ [venda de seguros pela rede postal]”, diz o executivo.
“Trata-se de um modelo completamente novo, que vamos desenvolver em conjunto com os Correios”, afirma Tritz. O CEO da CNP Seguradora explica que a estratégia para a rede de agências dos Correios é focada em seguros massificados e microsseguros, ou seja, produtos com custo mais baixo e acessível, com potencial maior de inclusão de pessoas com pouco ou nenhum acesso ao mercado de seguros. “Vamos comercializar produtos de vida e não vida, como microsseguro residencial, auxílio funeral e outros. A ideia é que essas proteções custem, em média, R$ 20 ao mês, ou seja, tenham um custo muito acessível.” Os produtos terão custo a partir de R$ 9,90.
Para Tritz, outro ponto importante da operação é a rapidez na contratação. “Temos uma meta de que todo o processo desde a explicação até a contratação efetiva dure no máximo cinco minutos”, diz. “Teremos promotores que vão explicar os produtos para os agentes dos Correios.”
Na visão do presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, o acordo tem alinhamento com as funções sociais da companhia, de levar serviços diversificados à população. “A parceria tem como objetivo aumentar as receitas para a empresa, mas também popularizar o seguro”, afirma. De acordo com o executivo da estatal, “de cada dez brasileiros, apenas um tem seguro”. Seguros poderão ser distribuídos nas agências e até pelos carteiros” — Fabiano Santos
O CEO da CNP acrescenta ainda que a capilaridade da rede de agências traz potencial muito grande de inclusão securitária para a população de renda mais baixa. “Os Correios, com sua presença em todos os municípios, têm capacidade de alcançar mais da metade da população brasileira”, ressalta.
Santos, dos Correios, afirma que, em termos de possibilidade de distribuição de produtos, até mesmo a base de carteiros ligados ao grupo poderá ser utilizada no futuro. “Temos mais de 40 mil profissionais que poderão, eventualmente, ajudar na distribuição dos produtos de porta em porta”, pondera o executivo.
Conforme o presidente dos Correios, a parceria se insere em uma estratégia de diversificação de receitas e produtos da companhia. “Os seguros são um dos componentes de um novo ecossistema que estamos construindo, com mais produtos e serviços”, afirma o dirigente. “É a primeira de várias parcerias que vamos firmar”, acrescenta.
O executivo avalia que aumentar o acesso a proteções securitárias à população se alinha ao papel social da companhia. “Além de ofertar produtos mais baratos, podemos ajudar a conscientizar as pessoas sobre a importância dos seguros e da prevenção e redução de riscos”, afirma.
Tritz, da CNP, explica que um dos desafios da parceria está no desenvolvimento conjunto da tecnologia para dar apoio à operação. “Esse investimento tecnológico é importante para assegurar que a venda não dure mais do que cinco minutos. Além disso, temos um foco em criar uma jornada simples, eficiente e agradável ao cliente”, diz. Segundo o CEO da seguradora, existe a previsão de lançamento, até o primeiro trimestre de 2024, de novos canais digitais, além de um aplicativo móvel para facilitar tanto a consulta às informações quanto o relacionamento do segurado com o grupo.
De acordo com Santos, dos Correios, a proposta do acordo prevê o acréscimo gradual de novos produtos. “Estamos iniciando a parceria com uma quantidade específica de seguros, mas podemos evoluir para uma gama muito maior de produtos”, diz o presidente da estatal.
O executivo também enxerga grande potencial para a geração de dados na operação de seguros. “Estamos nos preparando, com investimento em tecnologias como inteligência artificial e análise de dados para melhor utilizar essas informações tanto no negócio quanto no atendimento à população”, afirma.