Desaceleração do comércio eletrônico impacta receita da estatal, que deve ter privatização suspensa

Valor Econômico
Por Andrea Jubé — De Brasília 14/12/2022 05h00 Atualizado

Prestes a completar 360 anos, os Correios fecham 2022 com lucro de R$ 1,5 bilhão, mesmo com a desaceleração do comércio on-line, uma importante fonte de receita. A estatal chega a 2023 com grandes chances de sua privatização, planejada no governo Bolsonaro, ser engavetada.

“Os resultados da empresa neste ano não serão tão expressivos como no ano passado, mas não por culpa da empresa. Isso é reflexo da realidade mundial e nacional do comércio eletrônico”, disse ao Valor o presidente dos Correios, Floriano Peixoto.

A pandemia impulsionou o “e-commerce”, um dos fatores que contribuíram para a expansão da receita da estatal. No ano passado foram R$ 22 bilhões. Em 2020, R$ 17,9 bilhões, um recuo de 6% em relação a 2019, quando a receita totalizou R$ 19 bilhões.

A empresa ainda não dispõe da projeção de receita para 2022, porque os meses de novembro e dezembro tendem a ser os mais importantes, em virtude de eventos como Black Friday e Natal. Mas o presidente da estatal adiantou a expectativa de um lucro recorrente superior a R$ 1,5 bilhão.

Em março, a atual direção dos Correios apresentou ao conselho de administração um resultado recorde relativo a 2021: um lucro líquido de R$ 2,3 bilhões. Foi o melhor balanço em 22 anos, o que permitiu à empresa retomar o pagamento dos dividendos, no valor de R$ 260 milhões, após um hiato de dez anos. Também foi possível à empresa compartilhar os lucros com os empregados, conforme acordo coletivo de trabalho. Atualmente, a estatal conta com um quadro de 87.351 empregados.

São cerca de 12 mil funcionários a menos em relação a 2019, quando havia 99.412 servidores. Essa redução do quadro se deu via programas de demissão voluntária (PDV) e aposentadorias.

Os Correios ainda convivem com um passivo trabalhista de R$ 1,23 bilhão, mas Peixoto diz que essa conta está sob controle. Lembrou que quando assumiu a direção da estatal, em junho de 2019, encontrou um rombo de R$ 18 bilhões, uma folha de pagamento para honrar no valor de R$ 1,1 bilhão, e somente R$ 130 milhões disponíveis no caixa. Outra dificuldade foi a greve de 33 dias dos servidores, que rendeu um prejuízo de R$ 330 milhões.

O plano de saúde e o previdenciário (Postalis) eram problemas históricos, que segundo Peixoto, hoje se encontram estabilizados.

Peixoto ponderou que este ano foi marcado pelo retorno das lojas físicas abertas, impedindo um desempenho igualmente significativo das vendas on-line. Ele prefere comparar os resultados de 2022 com 2020 por uma questão de “lógica e de justiça”, porque naquele ano o “e-commerce” não estava aquecido. “O ano de 2021 foi atípico para todos”, alegou. Em contrapartida, ele cita os dados da pesquisa “The Future of Retail”, com previsões para o futuro do varejo, que projetou um crescimento de 42% do e-commerce brasileiro até 2025. “Com a consolidação do comércio eletrônico como opção viável, segura e conveniente, o setor de logística passa a ser o grande protagonista desse mercado”, diz.

O segmento de encomendas internacionais cresceu 900% em quatro anos, observou. A empresa, então, investiu em três novos centros internacionais de distribuição: um na região Centro-Oeste, outro na região Sudeste, e o terceiro no Aeroporto de Guarulhos. No terminal, a estatal alugou um espaço de 106 mil m2 que será transformado num “hub” latino-americano de encomendas. O memorando de entendimentos já foi assinado.

Peixoto reuniu-se com a equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, recentemente, para compartilhar dados sobre a situação da estatal. “A reunião foi boa, a pauta nos foi repassada pelo Ministério das Comunicações para falarmos da estrutura, das ações mais relevantes, questões de caixa, dar uma moldura mais ampla da empresa, não houve aprofundamento em qualquer área, e se houver necessidade, isso vai passar pelo Ministério da Economia”, relatou.

Além do “hub” logístico em Guarulhos, outro projeto em andamento que Peixoto espera que a próxima gestão dê continuidade é o estudo para modernização da empresa, confiado ao Cimatec, escola de excelência na área de indústria vinculada ao Senai, com sede em Salvador (BA). “Temos contrato firmado com o Cimatec para a recomposição da estrutura de funcionamento da empresa”, diz Peixoto. A instituição visitará as unidades da estatal, e o projeto-piloto terá início no centro de Cajamar (SP).

Peixoto deixará o cargo no fim de dezembro. Os presidentes dos institutos ligados ao plano de saúde dos Correios e do Postalis (de previdência) permanecerão nos cargos para ajudar na transição até os sucessores, em razão da especificidade dessas instituições.

Na reunião, estavam representando o futuro governo Lula o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo e o ex-deputado Jorge Bittar, do PT fluminense.

Disponível em https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/12/14/correios-tem-lucro-de-r-15-bi-neste-ano.ghtml