Alexandre Melo, Valor Econômico
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) registrou lucro líquido pelo segundo ano consecutivo, após três anos de prejuízo. Para elevar a rentabilidade, vai enxugar o portfólio e ampliar as parcerias com a iniciativa privada, como a firmada com a Azul Linhas Aéreas para o transporte de cargas. Ainda está nos planos aumentar os investimentos, que foram de R$ 225,5 milhões em 2018, para R$ 600 milhões este ano, segundo Juarez Aparecido de Paula Cunha, presidente dos Correios desde novembro.
No ano passado, o resultado líquido ficou positivo em R$ 161 milhões. “Foi decorrente apenas das operações”, disse Cunha. Em 2017, a estatal teve lucro de R$ 667,3 milhões, beneficiada por uma decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que restringiu os benefícios na Postal Saúde, empresa criada em 2014 para gerir o convênio médico dos funcionários.
Impulsionada pelas áreas de encomendas e logística, a receita líquida somou R$ 18,2 bilhões, avanço de 4,8% ante 2017. Na área concorrencial houve expansão de 16,4$ em encomendas e de 20,4% em logística. Enquanto o monopólio, que abrange as correspondências, teve queda de 7,1% na receita. Hoje, essa área representa 40% da receita total, mas a meta é recuar para 15% em dez anos.
Cunha disse que os resultados positivos são um argumento importante contra a privatização dos Correios, mencionada em 2018 pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. “Existe um erro de pensamento sobre esta questão. Somos uma empresa independente que não precisa de recursos do governo. Portanto, não gastamos o dinheiro do cidadão.”
O assunto ainda não foi tratado com o alto escalão do governo, mas Cunha disse que dos 5.570 municípios em que está presente, apenas 341 dão lucro. “Se houver privatização, vão querer o filé mignon. O Estado ficaria com o restante que dá prejuízo e seriam necessários R$ 8 bilhões anuais para manter os serviços.
Na área de encomendas e logística, somente os Correios conseguem atender todo o país. Das 12 mil agências, metade é própria. Cunha disse que em 41% dos municípios que a rede está presente, o Banco Postal é a única instituição financeira. Além disso, as lojas emitem documentos e pagam benefícios. A expectativa á ampliar a oferta de serviços em parcerias com o governo federal, estadual e municipal.
Para 2019, o executivo confirmou que foi aprovado pelo conselho de administração um plano de demissão incentivada com meta de atrair entre 8 mil e 10 mil empregados. A economia estimada na folha de pagamento é de R$ 300 milhões. Atualmente, a ECT tem 105 mil funcionários.
Cunha ressaltou que as mudanças são necessárias para manter o crescimento da receita e da rentabilidade. Foi contratada a Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipe-cafi) para fazer o diagnóstico até maio de quais produtos e serviços com margens mais elevadas a estatal deverá manter no portfólio.
Neste ano, o objetivo é que o resultado líquido seja superior ao do ano passado e a receita cresça 10%. Os Correios também avaliam o fechamento de agências deficitárias. Em 2018, foram encerradas 41 unidades.
A estatal prevê investir quase o triplo do ano passado. Os recursos serão para área operacional, que inclui armazenamento e frota. A geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebit-da, na sigla em inglês) foi positivo em R$ 712 milhões em 2018 ante R$ 296 milhões em 2017.
No ano passado, a dívida líquida ficou em R$ 310,8 milhões, uma queda de 6,3%. Foram realizadas amortizações de dívidas no valor de R$ 480,8 milhões no período.
Dentre os negócios da companhia, Cunha demonstra mais otimismo com a Correios Participações (CorreiosPar), subsidiária para investimentos com a iniciativa privada. Foram contratados executivos para estudar oportunidades de negócios em logística expressa. “Queremos fazer entregas no mesmo dia. Estamos conversando com a Loggi e o Uber para parcerias”, disse. Aquisições na área não são descartadas.
Depois de dificuldades na “interação” com os Correios, a subsidiária está “deslanchando”. A CorreiosPar nasceu em 2014, mas só entrou em operação dois anos depois. Um negócio considerado promissor é o Correios Celular, uma operadora móvel com rede virtual (MVNO, na sigla em inglês), com 354 mil linhas. A operadora planeja uma parceria com a estatal Telebras para apoiar a expansão de internet no país.