Revista Fecomércio DF

Doutor em Direito pela PUC de São Paulo e com extenso currículo nas esferas administrativa, previdenciária e regulatória, o presidente dos Correios, Fabiano Silva dos Santos, fala sobre os projetos de modernização e ampliação da maior empresa de logística da América Latina.Segundo ele, nove entre cada 10 lojas virtuais utilizam os serviços da estatal, que alcança 100% dos municípios brasileiros.

1 – A retirada dos Correios do Programa Nacional de Desestatização foi uma das primeiras medidas assinadas pelo presidente Lula em seu novo mandato. Por que o governo avalia ser mais vantajoso manter a empresa no
regime público?

Os Correios têm 360 anos de serviços públicos prestados ao povo brasileiro. Somos a única instituição presente em todos os municípios do País e nisso reside a importância estratégica de se manter a empresa pública. Nenhuma empresa privada levaria uma mensagem ou uma encomenda a uma cidade do interior profundo do Brasil pelo preço que praticamos.
Os grandes players logísticos não possuem interesse em atuar nos rincões nem é seu papel. Mas é competência da União, prevista na Constituição Federal, manter o serviço postal, de forma que não se permita que o direito à comunicação e ao sigilo da correspondência fique sujeito a interesses de mercado. E essa tarefa é delegada pelo governo aos Correios. O serviço postal é tão estratégico, que pouquíssimos países do mundo privatizaram seus correios. Portugal privatizou seu serviço postal em 2013 e enfrentou reclamações sobre perda de qualidade e aumento de preços. A Argentina privatizou também e acabou reestatizando.

2 – Os Correios são a maior empresa de logística da América Latina. Fale um pouco sobre os números e as razões que justificam esse título.
Estamos presentes em 100% dos municípios do País, por meio de uma infraestrutura que inclui uma rede de atendimento de mais de 10 mil agências, mais de 8 mil unidades operacionais, 23 mil veículos e 87 mil empregadas e empregados diretos.
Por dia fazemos mais de 12 milhões de entregas em todo o País com alto nível de qualidade e eficiência: em junho, nosso indicador de entregas no prazo ficou em 96,97%, ou seja, a cada 100 encomendas e mensagens, 97 são entregues no prazo contratado.

3 – Desde 2011 não há concurso para os Correios. Na Internet, muitos sites falam sobre a expectativa de lançamento de um edital. O que senhor pode adiantar sobre esse tema?
Estamos elaborando estudos sobre o tema, que incluem também a Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais, a SEST. Antes de definir a realização de um concurso, precisamos equalizar nosso efetivo e dimensionar a necessidade de mão de obra.

4 – Como o Sr. descreve a relação dos Correios com o comércio, sua história e sua evolução?
E o que está sendo feito para que a empresa se adapte aos novos tempos, como na questão da concorrência com empresas privadas de logística e entrega de mercadorias?

Os Correios são o maior operador logístico brasileiro, presente em todas as cidades, portanto é natural que sejamos a primeira opção dos comerciantes, em especial de micros e pequenas empresas. Estimamos que nove entre cada 10 lojas virtuais utilizam nossos serviços para entregar produtos em todas as regiões do País.
Com o avanço tecnológico, nossa prioridade tem sido modernizar a empresa para melhor atender às exigências dos consumidores e do mercado. Estamos ampliando o uso dos canais digitais e lançando novas funcionalidades para garantir mais acessibilidade e praticidade aos usuários, em especial no que se refere ao e-commerce.
Com relação à infraestrutura e malha logística, estamos aumentando a capacidade com a abertura de novas unidades. Somente neste ano, já inauguramos centros operacionais em Guarulhos/SP e Valinhos/SP. Em breve iremos também inaugurar um outro complexo operacional em Brasília/DF, além de estarmos trabalhando para a implantação de um hub no Nordeste.

5 – Quais os serviços estão voltados hoje para atender ao comércio em geral, principalmente os pequenos e médios empresários? Como ter acesso a esses serviços?
Por sermos o maior parceiro do e-commerce brasileiro, nossa prioridade é fortalecer ainda mais essa posição no mercado. O Correios Log+, por exemplo, é um serviço capaz de reduzir custos logísticos em até 50%, oferecendo desde o espaço físico para armazenar e preparar pedidos até a entrega ao consumidor final, incluindo a logística reversa. Outro exemplo é o Correios Log Supri, serviço que tem o objetivo de prover empresas e órgãos públicos com uma cadeia logística dedicada à gestão de seus suprimentos, desde a coleta, o recebimento, a conferência, a armazenagem até a distribuição.
Também temos a modalidade Correios Log Supri “In House”, em que o cliente tem a opção de contratar os Correios para executar as atividades de intralogística dentro do seu espaço, ou seja, não é necessário que o estoque de insumos esteja em um dos nossos armazéns. Com o Log Supri In House, o cliente pode contar com toda a expertise e tecnologia em supply chain dos Correios dentro do seu estabelecimento, em qualquer município do País. E os clientes dos serviços Correios Log+ e Correios Log Supri podem contar com o Transfer Log, uma nova solução de logística para abastecer estoque por meio de transferência de carga realizada diretamente pelos Correios, reduzindo preço do frete, tempo de atendimento do pedido e otimizando o estoque.
Há ainda o Correios Empresas, que oferece mais comodidade e atendimento diferenciado e customizado, além da disponibilização de plataforma digital prática e acessível para acompanhamento e gestão do contrato com os Correios. Além de estrutura física diferenciada, a plataforma digital Correios Empresas tem uma série de serviços e permite
ao empreendedor o gerenciamento de seus negócios de forma on-line, confiável e segura. Pelo site ou app, os clientes podem, por exemplo, gerir seus contratos, consultar limite de crédito, analisar dados e executar serviços de Correios em um só lugar. Funcionalidades como simulação de preços e prazos, pré-postagem, rastreamento, suspensão da entrega e consulta de AR Eletrônico já estão disponíveis.
E temos ainda o programa AproxiME, cujo objetivo é apoiar e auxiliar, de forma estratégica e com facilidades, os micros e pequenos empreendedores no dia a dia com as vendas digitais. São conteúdos atualizados sobre o mercado digital e de e-commerce, sistemas diferenciados, preços competitivos, serviços de entregas, coleta, armazenagem e mais um vasto portfólio. Por meio desse programa foram realizadas 7.825 consultorias e-commerce contendo análises de site e política de fretes, para micros e pequenos empreendedores que possuem loja virtual. Em 2023, está prevista a realização de 37.900 consultorias.

6 – Qual o impacto do e-commerce na política de modernização e crescimento da empresa?
A transformação digital impulsionada, nos últimos anos, pelas novas necessidades de consumo de toda a população vai ao encontro da estratégia dos Correios de evolução e ampliação de seu ecossistema de soluções. Ações aderentes a esse mercado, que já vinham sendo desenvolvidas, foram intensificadas, reforçando o importante papel dos Correios para o País. Conveniência e acessibilidade entraram definitivamente no rol de necessidades vinculadas à tomada de decisão dos clientes.
Acreditamos que existe muito espaço para o crescimento do comércio eletrônico no Brasil e no mundo, e os Correios são peça fundamental no desenvolvimento desse mercado. O e-commerce representa atualmente no Brasil um pouco mais de 10% de todo o varejo e há espaço para uma participação bem maior à medida que os compradores tenham acesso a excelentes experiências de recebimento de seus produtos na hora e no local mais convenientes.
Por isso, nosso plano de ações estratégicas para os próximos anos prevê o lançamento de soluções específicas voltadas para o e-commerce, além de investimentos em tecnologia e infraestrutura para apoiar esse movimento.

7 – O senhor já falou sobre a construção de um centro de tratamento dos Correios em Brasília, e outro em Anápolis. O que serão e como funcionarão esses centros? Quais regiões seriam beneficiadas?
Entre as ações estratégicas que estabelecemos ao assumirmos a gestão da empresa está a modernização de nossa infraestrutura. Todos os centros que estamos construindo ampliam a capacidade produtiva de tratamento da nossa empresa, encurtando distâncias e prazos. Os centros que estamos implantando na região Centro-Oeste vão beneficiar a área central do Brasil e também a região Norte. Mas temos outras unidades em construção, em outras regiões.
Em abril inauguramos um Centro de Tratamento de Encomendas em Guarulhos/SP, com investimento para o período 2023-2024, de R$ 212 milhões. A unidade, com mais de 24 mil metros quadrados de área construída, atende à zona leste da capital, a Guarulhos, Alto Tietê e São José dos Campos, ou seja, 15 municípios do estado de São Paulo.
Em julho, entregamos o novo Centro Internacional de encomendas de Valinhos, no interior de São Paulo. Instalado em um complexo de 44 mil metros quadrados, possui capacidade de tratamento de 60 mil encomendas por dia. Situada em uma região estratégica, às margens da rodovia Anhanguera, a unidade possui fácil acesso aos aeroportos de Guarulhos e Viracopos, bem como a importantes estradas, como as rodovias dos Bandeirantes, Dom Pedro I e Santos Dumont.
Ainda em julho, foi aberta licitação para construção do complexo operacional em Brasília/DF. Ainda estão previstas construções de centros operacionais em Belo Horizonte/MG, Londrina/PR, São Luís/MA e Natal/RN, entre outros. E no início de agosto, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, lançou o Novo PAC com a inclusão de dois projetos dos Correios: a ampliação da capacidade de processamento dos objetos nacionais e internacionais, com instalação de novos Centros Operacionais, e a modernização do Parque Logístico Nacional dos Correios, com a instalação de novos sistemas de triagem automatizada de encomendas. O valor total que será investido está estimado em R$ 854 milhões.

8 – O senhor também já citou a construção de um novo centro de distribuição, um hub, no Nordeste brasileiro. Qual o objetivo desse projeto e qual o impacto esperado?
Com base em estudos técnicos, definimos que um centro internacional será construído em Natal/RN. O Nordeste hoje recebe cerca de 23% das encomendas internacionais que os Correios entregam no Brasil. Esperamos com esse hub reduzir custos com o transporte de carga das regiões Sul e Sudeste para o Nordeste em R$ 24 milhões por ano a partir da implantação do centro. A expectativa também é registrar redução dos prazos de encaminhamento, com consequente redução no prazo de entrega, um ganho que pode variar de 2 a 6 dias, conforme o local de destino.
Além disso, quando estiver operando plenamente, o centro internacional vai gerar 250 empregos diretos e 1.250 indiretos, segundo estimativa da superintendência local dos Correios.

9 – A história do Brasil passa pelos Correios, e talvez por isso seja tão importante manter fortalecidos os quatro espaços culturais localizados em diferentes cidades, além do Museu Nacional dos Correios, em Brasília. Existe
algum projeto de expansão e fortalecimento desses espaços?

Temos o compromisso de incluir, novamente, a empresa na condição de parceira da Cultura, em consonância com as políticas do governo federal. As Unidades Culturais Correios cumprem importante papel na democratização e no fomento da cultura e da história do País, realizando projetos culturais e abrigando relevante acervo histórico que conta a história da empresa e da comunicação brasileira.
Infelizmente, a gestão anterior abandonou esses patrimônios e estamos realizando uma revisão de toda a carteira de imóveis históricos, avaliando parcerias para que possam ser destinados ao uso pela população. Recentemente, fechamos uma parceria com o governo do Rio Grande do Sul, destinando nosso prédio histórico para a Secretaria de Estado da Cultura. Nosso objetivo é fortalecer esses espaços, reforçando a vocação dos Correios para executar políticas de governo, conectando a população à sua história e cultura, sempre buscando o desenvolvimento do nosso País.

10 – No passado, cartas e selos estavam presentes nas nossas vidas de forma cotidiana quando o assunto era comunicação e filatelia (estudo e coleção de selos). Hoje, com a tecnologia, tudo mudou. O que restou disso tudo
e qual caminho está se tomando agora?

Seguindo uma tendência mundial, as novas formas de comunicação e a familiarização da população com os meios digitais vêm impactando o envio de mensagens.
Para se ter uma ideia, entre 2008 e 2022, o envio de mensagens caiu 73% e o de encomendas cresceu 210%. Apesar disso, ainda são mais de 2 bilhões de mensagens enviadas por ano. Isso mostra que o serviço postal é essencial para a população brasileira e, por isso, tem que ser acessível: o preço de uma carta para qualquer lugar do Brasil hoje é R$ 3,40. Em contrapartida, o envio de encomendas cresceu 310%.
Isso mostra que houve uma mudança no perfil do nosso cliente e por isso é tão relevante o movimento de modernização e adequação dos Correios às necessidades atuais da sociedade. Sem dúvida, conseguiremos realizar essa tarefa, de modo que possamos cumprir a missão que nos foi confiada pelo presidente Lula, de fortalecer os Correios e bem servir a população brasileira.