Com o objetivo de melhorar a alfabetização por meio da escrita, o Concurso Internacional de Redação de Cartas, promovido anualmente pela União Postal Universal (UPU), incentiva estudantes a expressarem sua criatividade e melhorar seus conhecimentos linguísticos. No Brasil, a realização do concurso fica a cargo dos Correios e é desenvolvida em três fases: escolar, estadual e nacional.

Na última edição do concurso, o tema da redação foi “Escreva uma carta sobre o seu herói”. Na escolha dos estudantes, nada de Batman, Capitão América, Mulher Maravilha, Hulk ou Homem de Ferro. Os principais heróis eleitos pelos estudantes foram pessoas de carne e osso que os inspiram a agir melhor. Pais, avós, professores, bombeiros, escritores, mulheres, negros e tantos outros personagens reais foram citados nas cartas recebidas pelos Correios.

Heróis abstratos, como o amor, o conhecimento, a música, a fé, além de pessoas que se imortalizaram por seus atos, como Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Nelson Mandela, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá e Malala Yousafzai, também foram lembrados por crianças e adolescentes de até 15 anos que disputaram as etapas estadual e nacional do concurso.

Entre as 6.813 redações que participaram do concurso este ano no Brasil, estava a carta de aluna Sara Luisa Amorim da Rocha, de Vila Velha, Espírito Santo, que foi selecionada para representar o país na etapa internacional, a ser realizada em Berna, na Suíça. Sara tem 15 anos e cursa o 1º ano do Ensino Médio no Colégio Marista Nossa Senhora da Penha como bolsista. Ela elegeu a música a “heroína das heroínas”.

Ao contrário dos super-homens e mulheres da ficção, que são capazes de feitos impossíveis para salvar o mundo, Sara destaca o poder da música. “Ela é a salvadora das mentes angustiadas, dos corações sofridos e das almas perdidas (…) A música cura as pessoas que a buscam, permitindo que elas vivam em harmonia e equilíbrio emocional e pessoal. Por isso, eu reafirmo: a música é a heroína das heroínas e o herói dos heróis”, narra a estudante em sua carta.

A aluna conta que sempre gostou de escrever e que a música sempre fez parte da sua vida. Filha de músicos, Sara toca cinco instrumentos. “A música é minha heroína no sentido emocional, porque consegue tocar as pessoas”, ressalta. Para exemplificar o poder da sua heroína, a jovem explica sobre como ela influencia na vida de uma criança com Síndrome de Down, filha da melhor amiga de sua mãe.

“Vejo como a música age no desenvolvimento da menina, pois já consegue pronunciar algumas palavras, responder perguntas, e, se você ensinar uma canção, ela vai aprender. É incrível”.  Sara também incentiva a participação dos estudantes no concurso. “Independentemente da condição financeira, todos os alunos devem acreditar que são capazes de realizar seus sonhos”, completa.

Heróis sem capa

Também foram classificados em segundo e terceiro lugares na etapa nacional, respectivamente, Herberth Heloy Amaral de Oliveira, de 15 anos, do Colégio Gentil Bittencourt em Belém (PA) e Samuel Silva de Almeida Raimundo, 13 anos, do SESI 207 em Caçapava (SP).

Herberth escreveu sobre o professor, pois, de acordo com seu texto, “é ele que me faz sonhar com uma realização profissional e com uma geração que respeite as diferenças, e possa extirpar da nossa realidade as guerras e os conflitos, alcançando a paz mundial e promovendo o acesso à educação a todos os povos da terra”.

Já Samuel escolheu ele mesmo como herói, enquanto menino de rua. “procurei por salvação nos outros. Fiquei cego e quando a luz chegou aos meus olhos vi que aquele que iria me salvar não usava capa vermelha, tinha apenas alguns trapos sujos e trazia consigo alguns velhos livros e o incrível poder de contar histórias. Prazer, eu sou meu herói, mas também sei que atrás dessa carta que lês agora, também pode estar um herói escondido e que precisa entrar em ação”, explica em sua redação.

Dicas de vencedora

Laura de Paula participou do concurso em 2006, o que incentivou a escolha pelo curso de jornalismo. Foto: Divulgação/Correios

Em 2006, a goiana Laura de Paula Silva venceu a etapa internacional da 35ª edição do Concurso. “Foi um ano muito especial pra mim. Guardo na memória cada detalhe dessa conquista”, confessa. Quando cursava o 1º ano do Ensino Médio, no Colégio Estadual Jales Machado, na cidade de Goianésia, a 175 km de Goiânia, Laura escreveu uma carta que contava como o serviço postal a ajudava a se conectar com o mundo e teve seu talento reconhecido internacionalmente, viajou à Europa e ganhou um incentivo na escolha do caminho que seguiria profissionalmente: o jornalismo. “Foi um divisor de águas na minha vida”, destaca.

Para os estudantes que se interessam em participar do concurso, que ocorre todos os anos, a última brasileira vencedora da etapa internacional dá algumas dicas. A jornalista lembra que antes de começar a redigir sua carta, em 2006, realizou uma ampla pesquisa sobre o tema e acredita que esse trabalho tenha influenciado no resultado do texto. “Os estudantes têm que pensar bem em como vai tratar o tema proposto em forma de carta para que seja algo criativo. É preciso criar uma história que seja um diferencial da sua carta e chame a atenção dos jurados”, aconselha.

A quarta etapa, fase internacional, fica a cargo da UPU, que reúne 191 países. A participação se dá por meio das escolas (rede pública e privada), que selecionam, entre as redações de seus alunos, até duas melhores cartas para representá-las. A primeira melhor redação de cada estado segue para a fase nacional, na qual é escolhida apenas uma carta que irá representar o Brasil na fase internacional. O Brasil participou de todas as edições do concurso, que acontece desde 1972, e já venceu a fase internacional em três edições. O país também recebeu cinco menções honrosas, em 2009, 2012, 2016, 2017 e 2018.